diz novo estudo do Data Favela
Falta de dinheiro lidera a entrada, e emprego formal é o principal fator de saída do tráfico
O Data Favela divulgou nesta segunda-feira (17/11), em live no YouTube da CUFA Nacional,
a pesquisa inédita Raio-X da Vida Real, o maior estudo já realizado com pessoas em
situação de crime no tráfico de drogas no Brasil. A pesquisa ouviu 3.954 entrevistados em
plena atividade, em favelas de 23 estados, e revelou um panorama profundamente marcado
pela desigualdade e pela busca por sobrevivência. No recorte do Rio de Janeiro, os dados
confirmam um cenário crítico, mas também apontam caminhos reais para redução da
criminalidade nas favelas fluminenses.
O levantamento mostra que 70% das pessoas no crime no Rio deixariam imediatamente
essa atividade se tivessem oportunidade, um índice superior à média nacional (58%).
Apenas 18% dos entrevistados fluminenses afirmam que não sairiam do tráfico. Segundo o
estudo, o principal motivo tanto para a entrada quanto para a permanência no crime é a
necessidade econômica: no Rio, 55% afirmam ter começado a traficar por falta de dinheiro,
também acima do índice nacional (49%). A vida no crime, contudo, não garante sustento
estável: 63% ganham até dois salários mínimos, e muitos precisam exercer uma segunda
atividade legal para complementar a renda.
A pesquisa mostra ainda que o emprego formal (CLT) é o fator mais decisivo para que
fluminenses deixem o crime: enquanto no Brasil 20% aceitariam sair por uma vaga com
carteira assinada, no Rio esse índice sobe para 30%, mais que o dobro de São Paulo. Por
outro lado, apenas 8% dos entrevistados fluminenses aceitariam trocar o crime por um
trabalho flexível, como motorista de aplicativo, mostrando que o desejo por estabilidade
pesa mais para essa população.
Entre os motivos que impedem a saída, a pesquisa aponta que 38% das pessoas no Rio
citam o risco de vida como um dos principais fatores — mais que o dobro de São Paulo
(16%). A violência cotidiana, conflitos armados e disputas territoriais tornam a decisão de
sair do crime uma opção perigosa, mesmo quando há desejo e disposição.
“Os dados confirmam aquilo que a CUFA observa há décadas nas favelas: a criminalidade
não é projeto de vida, é falta de oportunidade. Quando perguntamos se sairiam do crime
caso tivessem uma chance real, 70% dos fluminenses dizem que sim. Não é sobre escolha
entre o certo e o errado; é sobre sobreviver”, afirma Marcus Vinicius Athayde, CEO do Data
Favela.
Para o Data Favela, os resultados revelam que emprego, renda e empreendedorismo são
os pilares mais eficazes para enfrentar a criminalidade, mais do que ações exclusivamente
repressivas. A pesquisa sugere a criação de um programa nacional de geração de
oportunidades de trabalho, articulado com governo, empresas e sociedade civil — caminho
capaz de produzir resultados rápidos e duradouros em territórios vulnerabilizados.
A pesquisa Raio-X da Vida Real foi realizada entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025,
com metodologia presencial e com pesquisadores moradores de favelas, garantindo
profundidade, precisão e legitimidade à coleta de dados.